Me resguarda do banal
Me endoidece, revira pelo avesso
Sem eixo, sem eira, sem beira
Engraçado como gosto
Do gosto disso
Espalho o meu organismo licoroso
Sob sua natureza sólida, segura, robusta
Logo eu
Uma borboleta exaltada
À deliberação do vento
Pujança de pedra
Que não machuca
Me arrebata pra frente
E não me força!
Cala, olha
Tira da terra
Não deixa quarar no sol
Volto pra dentro
Embruteço
As mãos frias
Tateiam a escuridão
Descoro à noitinha
Um galope distante
Bruma, fios de luz tão clara
Já não quero fitar!
Quase voa
Adentra a densa mata
Em sua humanidade
De cavaleiro andante
Sabedor que é
Das veredas tortuosas
Das fontes de água mais doce
Do paradeiro de invisíveis artesãos
Abri os olhos
Já não enxergava
Juro que ouvi!
Parecia mesmo o trote do corcel
Desatando o soturno bosque
E suas torcidas grinaldas
Ataviadas com delicados atilhos
Fúlgidos!
Fechei a porta com força
Quando a claridade bateu
Cravei sofreguidão
Na desfaçatez
De sua querença indomável
Na feira dos avessos
Estruturas inacabadas
Vultos indistintos
Cores que berravam
Débil alteridade
Disposta em leilão
Arrematada?
Por uma pechincha!
A boca escancarada
Brincava de trocar perfídias
Embaladas em papel de seda
Decoradas com as mesmas
Flores do campo – secas e empalhadas -
Que velaram a minha meninice
Carcomida
Por aquelas tardes quentes
Onde não se dormia
Com tanto silêncio!
Evoquei suas mãos
Que reproduziram o calor
O calor que era nosso
Assim passaram dias inteiros
Sol, sal e ardor
Tardes com lágrimas
Que choviam de meus olhos
Noites que desafiavam
Aquela estranha e inata fé
Que se abalava agora
Ousas beber da minha água?
Barrenta,
fria, tóxica?
Não
há antídotos
Ao
fraco e febril combalido
Resta
repouso e perseverança!
Caso
resista
Que se apresente
Em sua autêntica forma
Mesmo
que eu feneça
Reduzida a cinzas
Dissipadas no vento.