Amélio

O homem comum é um tipo cativante. Topei mais uma vez com este tipo hoje, na figura do carteiro.
Magrinho, nenhum atrativo físico, por outro lado não apresentava nenhum traço oposto. Nada feio, repugnante, esquizóide, apenas comum.
No seu semblante, uma paisagem indefinida. Sabe cara de paisagem?
O homem comum passa confiança e até um certo sentimento maternal. Nunca se espera que ele vai olhar pra sua bunda quando você virar, não fica dando aqueles sorrisinhos impertinentes, abusados e irritantes. Não parece um tarado – mas pode ser!-, tampouco é carrancudo ou blasé.
Será que ninguém pegaria o homem comum? Tão sem gracinha, já passou da idade, desprovido de qualquer vaidade, conhece o básico do mundo, não esquenta a cabeça com nada.
Num tom baixo, polido e quase doce: “essa sacicha dá muito pobrema no estomo”, essa gracinha de criatura me encanta com sua inventividade pueril e despretensiosa. É bom topar com um carteiro assim: “gente como a gente.”
Encarnação da bondade, do homem respeitador, do pai cuidadoso, do marido pacato, que faz ouvido de mercador e vistas grossas até para os deslizes da esposa fogosa. “Jurema? Aquilo é uma santa! Da casa pra igreja, da igreja pra casa...”
Não é que ele existe minha gente, o Amélio? Todavia, você minha amiga dona de casa, prendada e honesta, não pense que é tão fácil fisgar um Amélio, pois o negócio deles são as Juremas da vida. Vai entender...

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